terça-feira, agosto 22, 2006

XV - Volta á ilha da madeira em canoa

Pois é lá foi mais uma volta. Já la vão 9 voltas a ilha completas.

Dia 15
Bem parece que estou mais descontraido do que pensava que ia estar.
A etapa é de 18km do Funchal até Machico.
A etapa até correu bem, ficamos em 4º lugar, os sul-africanos são mais fortes do que pensava, se continuar assim vamos ficar em 4º lugar na volta já que eles ficaram em 2º lugar e a Isabel em 3º. Mesmo assim estou espantado que tenhamos chegado tão perto da Isabel. Não treinou muito este ano.
O tempo esta bom mas dizem que vai haver tempestade amanhã. Não me parece mesmo nada...


Dia 16
Hoje vai ser a doer. Uma etapa rapida de Machico a Baia d'abra (8km) sempre a abrir e uma etapa duas horas depois da Baia d'abra para o Porto da Cruz (22km).
A etapa da manhã corre bem, quando digo que corre bem digo que não doeu muito.
4º lugar outra vez e continuamos a andar perto dupla da Isabel.
Os sul-africanos são mesmo fortes, passaram por nós como se tivessem a brincar.
Já me esquecia o quanto odeio parar na Baia d'abra, é uma praia de calhau grande, cheio de lôdo. É um problema do caraças pensar em não enfiar o pé a meio de 2 calhaus e provavelmente partir o pé, e ao mesmo tempo, tentar levar o kayak sem deixa-lo cair. Acaba por ser um misto de gatinhar em calhau com um peso ás costas.
Depois de 2 horas a descansar e comer um pouco la, começou a levantar vento. Parece que a dita tempestade chegou. O mar alterou-se muito rapidamente, de não haver ondas, passou a muito agitado, precipitamo-nos todos para a água para entrarmos rapido nos kayaks e assim evitar entrar com ondas muito grandes. Lá fomos a gatinhar pelo calhau. Mais tarde descobresse que o Helder partiu um dedo do pé num calhau e nem notou.
A partida é dáda e la fomos nós para a pior etapa (a meu ver). A etapa começa no mar do sul e em pouco tempo passamos para o mar do norte. Esta passagem é sempre contorbada, e nestes ultimos anos tem sido bastante contorbada, chegando a termos ondas de 5 metros. Este ano parece que está tudo ao contrario. Estamos a levar com todo o vento e ondas na parte sul e pela primeira ver em 9 voltas, passamos para a parte norte com ondas nas costas, quando costumamos levar normalmente com ondas de 3 metros de frente. Chegados ao mar do norte uma calmia sem precedentes...vai doer...
E doeu, a corrente estava forte, e sem ondas mais devagar andamos. O meu primo foi de maca por estar exausto, só para rir LOL.
A unica etapa em que podia esperar uma desistencia de alguem que costuma ficar a nossa frente e o tempo estava bom. Tou a ver que vai ser o 4º lugar do principio até ao fim.


Dia 17
Uma unica etapa este dia. Porto da Cruz-Ponta Delgada (18km), é uma etapa que me costuma correr bem, mas este ano parece que está tudo ao contrario. A etapa toda foi com vento contra e ondas contra, mas mesmo assim não foi assim tão má. Adivinhem, 4º lugar. A minha parceira está a portar-se lindamente, só fico um pouco desapontado por eu não estar a andar mais. Podiamos ter um melhor desempenho, mas fico cansado muito rapido com um ritmo forte. Já tou farto de acartar a minha bolsa e colchão, as forças já me faltam. Subir tantos andares nas escolas que dormimos, a acartar a bolsa, parece que já começa a pesar uma tonelada. O que vale é que este dia temos muito tempo para descansar.
Os miudos andavam a fazer muito barulha á noite, do nada ouvesse a voz do Élio a dizer que começava á estalada numa ponta do corredor e acabava na outra ponta se não se calassem...não se ouviu mais um piu...


Dia 18
Hoje temos duas etapas curtas. Ponta Delgada-Seixal (11km).
Adiaram a largada porque disseram que as ondas estavam grandes demais para entrarmos.
É certo que as ondas a bater no paredão do molhe metiam respeito, mas tinhamos bons sets de ondas em que podiamos sair perfeitamente do molhe sem sermos atirados contra as rochas. Ao que parece o medo dos mais experientes falou mais alto aos ouvidos dos arbitros. Até gostava de pensar que foi isso, mas a verdade é que as "vedetas" começaram a ter medo, e todos tivemos de ficar a espera que o mar melhorasse. Claro que isso não aconteceu. Na realidade as ondas ficaram maiores e com um intervalo de sets de ondas pequenas, ainda mais pequeno.
Disseram que conseguiam entrar no molhe com um bote e levar os que pensavam que não conseguiam sair.
A Raquel está com medo de sair com as ondas que estão e estive tentado a ir de bote, mas vamos sair de kayak. Pedi que confiasse em mim e que remasse que nem uma louca quando eu dissesse, ela aceitou. Vamos la a ver se não me saio mal.
Tem um antigo canoista em cima do molhe a dar indicações de quando sair, por isso isto vai ser facil. Estamos alguns kayaks a espera de indicação para sair e as ondas estão mesmo grandes. Se formos apanhados vamos ter que saltar do kayak porque de certeza que o kayak vai bater às rochas.
Aqui vamos nós, arrancamos forte e passamos ja o molhe, já está o resto agora é facil.
Todos sairam bem e deram a largada. Parece uma etapa pequena e facil mas ainda é longa. 4º lugar. Até agora temos chegado sempre dentro de controlo. O controlo é aberto pelo primeiro de cada categoria. Por isso para a nossa categoria de K2 misto senior, a abrir o tempo estão a dupla Beatriz/Élio, o que constitui um problema já que são extremamente fortes e têm estado a competir com as duplas de K2 senior homens, têm chegado entre os 5 primeiros...O controlo é de 2 minutos por quilometro. Por isso nesta etapa de 11km o tempo é de 22 minutos depois da chegada dos primeiros. Se chegarmos depois disso, não temos pontos.
Almoçamos no Seixal, ficamos la a dormir um pouco e a conversar com todo o pessoal.
A etapa da tarde é de 8km entre o Seixal e o Porto Moniz. Vai ser sempre a abrir.
A largada é dada e estão ondas a favor, mesmo como eu gosto. Então começamos a planar as ondas todas que podiamos, o ritmo esta muito alto só que nem penso em parar, estamos a andar bem demais para abrandar. Apanhamos a Isabel e ultrapassamos sem dificuldades, estamos em 2º lugar, ao chegarmos a 500 metros da meta a Raquel avisa que esta um K2 misto perto, quando olho para o lado vejo os sul-africanos...filhos da puta. Tentamos arrancar mas eu ja estava muito cansado, acabaram por nos ultrapassar em cima da meta. Um K2 do nosso clube podia ter fechado a trajectoria deles ao fechar contra o molhe que estavamos a entrar. Em vez disso mesmo a pedido da Raquel não fizeram nada e deixaram que nos ultrapassassem. O homem do leme depois veio dizer que não queria ficar em cima das rochas. Se ele fosse mas era comer merda...não compreendo este tipo de sanguessugas que existe na nossa sociedade que não compreendem o que é um clube. Mamam e pedem favores, mas quando é para retribuir, não fazem nada. Não devia ter sido necessario pedir que fechassem os sul-africanos, se fosse comigo teria feito sem pensar duas vezes, como já fiz muitas vezes em favor de colegas de clube, amigos ou não.
Acho que nunca acabei uma prova tão exausto. Esta etapa foi mesmo demais...3º lugar, podia ter sido 2º, mas pronto...


Dia 19
A etapa mais longa. Porto Moniz-Calheta (27km).
Já não consigo dormir mais nestes colchões, já nem dormo direito, sempre a acordar a meio da noite.
A etapa começou bem, começamos a surfar ondas até a ponta do pargo, a chegarmos la estava distraido e atento as ondas e derepente vejo um vulto na água a 3 metros da proa do kayak, uma barbatana aparece e depois o resto do corpo, um tubarão veio fazer uma visita, deve de ter 2 metros, 2 metros e meio. Assustou-me, não estava a espera de vê-lo ali. É todo castanho, é muito bonito. Acaba por mergulhar para evitar o kayak que vai em direcção a ele. Ainda pensei avisar a minha parceira para ela ver, mas tinha-me dito para não dizer porque tinha medo. Estou arrependido por não ter dito, não é todos os dias que vemos um tubarão ao nosso lado. Podia lhe ter dado a hipotese para ver que não são os bichos assassinos que costumam caricaturar na televisão. Esta etapa parece que não acabava...4º lugar. Já tinha o cu a doer, demoramos 2horas e 58 minutos, já nem sabia como é que me sentava no kayak.
Ultima noite da volta.
Ao almoço serviram carne a jardineira. Não é que não goste, mas já estava farto de comida de escola, por isso fui a um restaurante mesmo acima da escola para comer. Estavam la já a comer 4 colegas de clube. Sendo um deles o homem do leme e o outro alguem com quem não vou com a cara a já um tempo, decidi que mais valia comer sozinho. Ia so ser eu e o meu bife com batata frita. Não havia mesmo pachorra para aturar pessoal que não curto, mesmo que esteja acompanhado por pessoas que até curto.
Perto da hora do jantar decidimos que alguns membros novos nas andanças mereciam uma praxe, por isso amarramos um deles com fita adesiva castanha. A confusão consequente fez com que um membro da organização fosse alertado e entro no quarto. Debandada geral, o Ruben foi o unico que ficou agarrado ao pescoço do dito "caloiro" a olhar para o membro da organização.
Havia a possibilidade de sermos expulsos mas acabamos por levar uma reprimenda. Este ano não há mais praxes.

Dia 20
Ultimo dia, e são duas etapas longas.
Calheta-Ribeira Brava (12km). Tentamos ir devagar para poupar-mos energia para a etapa da tarde, ao chegarmos a Ponta do Sol a Raquel diz que temos um K2 misto perto. O k2 que tem estado sempre em 5º lugar e nunca tinhamos visto a não ser na largada está mesmo ao nosso lado. Acho que estamos a descansar demais, arrancamos e chegamos em 4º sem problemas.
Fomos comer como sempre a camara municipal da Ribeira Brava, já me esquecia do que é que gosto tanto na canoagem, são estes momentos em que estamos todos juntos tipo familia no paleio a gozar uns com os outros.
Ultima etapa, finalmente o Funchal. Ribeira Brava-Funchal (16km)
Começamos bem e viemos sempre a dar forte. É a melhor maneira de acabar a etapa mais rapido e ir para casa. Ficamos em 4º na etapa e surpreendentemente (ou não) ficamos em 4º lugar.
Lavar kayak, tirar bombas de agua e tudo de valor do kayak e ir para casa.
Nada como um banho de imersão e ir para a entrega de premios para encher o pandulho...

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